Na vida em terra, tenho amigos de mais de 10 anos. Uns com uma continuidade outras com uma pausa e retorno sem que nada mudasse. Acho isso bem legal!
No mar, ter amigos é uma necessidade.
Se não tens um amigo para desabafar, ou pra tomar uma cervejinha pós expediente, ou simplesmente pra te fazer companhia, tu enlouqueces. O sotaque gaúcho que lestes agora é um dos sinais de ter amigos por todo o canto!
O mais engraçado é quando um desses teus amigos vai embora, ou porque o contrato acabou, ou por desistência, você sente um vazio tão horroroso, que na minha concepção, é similar ao da morte (exagero ou não, isso foi o que senti da primeira vez).
Eu lembro que no meu primeiro embarque, eu conheci um rapaz muito gente boa, inteligente e que sabia exatamente o que queria a bordo. Eu embarquei no dia 12 de agosto de 2011 e ele já estava lá quando eu cheguei. Mas ele foi embora no dia 14 de setembro. Nesse dia, eu andava pelo porto de Savona na Itália aos prantos porque eu não tinha conseguido dar tchau pra ele. Era como se um familiar muito próximo tivesse morrido e eu não tinha conseguido ir ao funeral. Estranho, mas foi isso o que aconteceu.
Aos poucos, fui aprendendo o valor das amizades dentro da casa de lata, especialmente quando fui transferido para outro navio.
Nesse novo navio, eu reencontrei pessoas que eu havia conhecido no decorrer do processo de embarque e conheci pessoas maravilhosas que fazem parte da minha vida até hoje.
Era muito estranho como éramos felizes dentro daquele navio, apesar de toda adversidade encontrada por nós la dentro. Era sempre um dando apoio ao outro. Quando um pensava em desistir, vinha outro e dava todo o apoio moral e, as vezes, físico.
Da mesma forma que eu chorei muito quando esse meu amigo desembarcou, eu vi uma amiga muito querida chorar muito quando, faltando um mês para o final do meu contrato, eu precisei desembarcar por motivos médicos. Foi uma sensação muito estranha, pois eu sabia exatamente o que ela estava sentindo, e eu sabia, também, que (pra mim), não seria nada demais eu desembarcar, e que quando fosse a vez dela, nós nos encontraríamos para tomar um sorvete (o que de fato aconteceu).
SEN SA CI O NAL é saber que verdadeiras amizades podem sim ser feitas em ambientes contrários, que a diversidade cultural, nacional, territorial ou seja lá qual for o AL nos permitir usar.
Aos amigos de terra, eu agradeço por me darem tchau, toda vez que eu preciso e dizer oi quando eu retorno.
Aos amigos de mar, eu agradeço por me dizerem oi quando eu chego na nossa casa de lata e tchau quando o nosso tempo junto terminou.
Verdadeiras Amizades Nunca Acabam